Parte 1
Havia se passado um mês desde o começo das aulas, Beatriz já havia se acostumado com a cidade, com a escola, com sua nova casa e com seus amigos, era estranho para ela pensar que poderia gostar de alguém outra vez, como gostava de Eva e Gabriela. Apesar de não ter tido uma boa impressão desta ultima em seu primeiro encontro, mudara totalmente de idéia, ao se aproximar dela, afinal eram colegas de sala.
Eva era uma garota um poço difícil às vezes, gostava de estar sempre na liderança da situação e tinha um poder de ser incrivelmente manipuladora, mas isso em nada afetava o relacionamento de Beatriz para com ela, ao contrário, se davam muito bem e Beatriz falava de seus amigos em Fortaleza e de sua ligeira paixão platônica por um colega de sala, Alessandro. Alessandro parecia um anjo aos olhos de Beatriz. Seus olhos eram tão azuis e tão chamativos, às vezes ela se pegava olhando para ele de uma forma ridícula. Enfim, Eva era encantadoramente animada, divertida e muito bonita, embora não soubesse ainda como valorizar a sua beleza – talvez nem saiba realmente que é bonita – pensava Beatriz.
Beatriz gostava dela, e alguma coisa a fazia pensar que aquela garota bonita e deprimida, estava sempre a vigiando com seu olhar. Ela não conseguia olhar para Gabriela sem reparar naqueles olhos, tinha uma necessidade de sempre falar-lhe olhando nos olhos. Seu coração disparava às vezes. Nem entendia o por que. A cigana era totalmente diferente de Eva, tanto mentalmente, quando fisicamente, enquanto Eva falava alto e andava por todos os cantos alegre e louca com seus cabelos lisos e castanhos, um corpinho pequeno e frágil, Gabriela preferia passar um tanto despercebida, falava bem e conversava muito, mas algo nela era diferente, havia algo nela que falava alto mas não emitia som algum. Seus cabelos eram cacheados e pretos, seu corpo não era o de uma deusa grega, mas ela era bonita demais embora não se valorizasse muito nesse sentido, tinha os seios fartos, Beatriz também reparava muito neles, e sua voz às vezes tinha um tom cínico e provocante. Poucos meses depois se tornariam melhores amigas.
vizinhos de Beatriz, Juliano morava no fim da rua – que só tinha duas quadras – e Taís morava em frente à casa de Beatriz.
A partir do encontro nos trilhos, em que Taís e Juliano convidaram Beatriz para irem juntos para casa, se tornaram também quase inseparáveis. Todos os dias iam para a escola juntos e voltavam para casa juntos. Com Taís, Beatriz conversava sobre todo o tipo de coisa, e com Juliano, geralmente a conversa girava em torno de um assunto só, mas era muito descontraído.
Na sala de aula já sentavam um ao lado do outro: Juliano, Gabriela, Eva e Beatriz. Algo que Taís tinha contra Eva, fazia com que esta preferisse se afastar de nós quatro durante as aulas. Juliano e Eva pareciam gêmeos siameses, andavam grudados – literalmente falando – enquanto Gabriela e Beatriz se aproximavam cada dia mais. Era uma amizade divertida.
fazendo. Começou a olhar para Juliano de uma maneira diferente, queria beijá-lo, nem sabia por que, afinal eles eram amigos. Juliano pegou um colchão e jogou no chão - sabe-se la por que – e deitou-se em cima dele. Beatriz teve a súbita idéia de jogar-se em cima de seu amigo pra fazer sei lá o que, nunca tinha bebido e não sabia por que tinha vontade de beijar as pessoas. Aproximou-se então devagar de seu amigo estirado no colchão, este a essa altura do campeonato já sabia muito bem do que se tratava a situação e parecia pouco a vontade. Beatriz tinha seu corpo neste momento exatamente colado ao de Juliano, beijou-lhe o rosto, o pescoço, disse-lhe algumas palavras vãs e depois lhe beijou nos lábios. O gosto do vinho misturando-se ao gosto da saliva de Juliano, ela sabia que estava sendo agradável para ele, dava para sentir, seu corpo se encarregou de dar os sinais. Taís se divertia com a cena enquanto escrevia algo no diário de Juliano exatamente na data daquele dia de maio de dois mil e sete.
Beatriz não sentiu nenhum constrangimento quando se levantou de cima do corpo de seu amigo. Nem sabia o que estava sentindo, para falar a verdade. O vinho estava lhe causando dores de cabeça, logo, ela e Taís foram embora, deixando de lado os comentários sobre o ocorrido. Beatriz chegou em casa, levou uma bronca dos pais por ter chegado tarde, broncas que entraram por um ouvido e saíram pelo mesmo ouvido – ela tinha dificuldade em escutar essas coisas. – E foi dormir. Desta vez não com lágrimas nos olhos como já fazia há tempos, mas sim com um sorriso nos lábios. Um sorriso malicioso nos lábios.
X X X X
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